Em meio à luta para que o jiu-jitsu se torne um esporte olímpico, a comunidade da modalidade sofreu um duro revés de imagem no último final de semana, quando o campeão mundial Erberth Santos largou o tatame para agredir um torcedor na área VIP do BJJ Stars, evento que reuniu a nata do esporte no Brasil. O caso repercutiu mundialmente, já que as lutas tiveram transmissão ao vivo pela internet. Organizador do evento, o empresário Fernando Lopes condenou a atitude de Erberth, encerrou o contrato com o lutador e defendeu o esporte das críticas de violência. “O que se prega e se ensina é autocontrole e disciplina”, declarou.
Lopes, que é mais conhecido por Fepa e também é faixa preta da modalidade, disse que conversou com Erberth e ouviu explicações.
“A reação foi por um cara que estava fora do tatame, segundo o Erberth, xingando a mãe dele e tentando desconcentrar ele da luta. O que no meu modo de ver não justifica. O que a gente aprende nas artes marciais é disciplina e autocontrole. Ele estava trabalhando e se desequilibrou com um fator externo do tatame”, contou.
A pessoa em questão era um aluno e torcedor de Felipe “Preguiça” Pena, o adversário de Santos e também campeão mundial. Em contato com a reportagem, Preguiça disse que o torcedor questionou a lesão de Erberth, que o ouviu, de dentro do tatame. Então, eles trocaram ofensas e o lutador deixou a área de competição para ir para cima do torcedor, estabelecendo a confusão.…
Erberth Santos foi procurados pela reportagem, mas não concedeu entrevista.
Nesta terça, ele publicou um texto em sua página no Facebook, em que acusou pessoas ligadas à Preguiça de ofensas raciais. Felipe Preguiça negou ter ouvido ou praticado essas ofensas:
“Ninguém xingou ele de nada disso e pelos próprios vídeos você pode ver que é mentira. Ele apenas piorou a situação dele, pois todo mundo sabe que isso não aconteceu.”
Fepa Lopes relatou a conversa que teve com Santos.
“Ele pediu desculpas, ele não acha que é o único errado. O cara que aparece no vídeo xingando e provocando, está errado. Mas o que eu expliquei para ele é que, se o cara te dá uma fechada no trânsito, ele não pode descer e agredir o cara. Ele é um faixa-preta. E o fato dele estar no trabalho dele, ao vivo para o mundo inteiro ver, agrava ainda mais, a repercussão foi mundial. Se teve ou não motivo, os motivos não justificam”, acrescentou….
Salários de executivo e evento com impacto mundial
O BJJ Stars foi o maior evento de Jiu-jitsu realizado no Brasil e tem a intenção de se tornar uma espécie de “UFC” da modalidade, dedicado somente à “arte suave”. A transmissão pela internet teve alcance mundial. O ginásio do Clube Hebraica, em São Paulo, teve lotação máxima. Os organizadores ainda estão fechando os dados de audiência do evento, mas já reclamam da pirataria na web, incluindo os próprios atletas.
“Não adianta fazer um evento destes e ver atletas fazendo lives, tirando uma receita que é para pagar os próprios atletas”, apontou Fepa. O pay per view das lutas custava R$ 49,90 para brasileiros e US$ 19,90 para quem estivesse fora do território nacional.
Erberth Santos contra Felipe Preguiça era a luta principal do BJJ Stars. Ambos campeões mundiais, os lutadores tiveram uma semana de provocações. Santos é conhecido no meio por polêmicas – em lutas anteriores, desferiu cotoveladas em oponentes e acabou banido pela Federação de Jiu-jitsu do Rio de Janeiro.
“O evento BJJ Stars não tem mais interesse em contratá-lo para lutar com a gente. Naquele momento ele jogou tudo para o ar”, apontou Lopes, “Ele é polêmico, promoveu a luta de uma forma que é o perfil dele. Não é só ele, tem vários que fazem isso. Tem atletas que fazem isso para desequilibrar os adversários”.
Erberth Santos acabou reagindo às provocações e desgastando a imagem do esporte. Com contrato de confidencialidade, a organização não confirmou o valor do cachê dos atletas, mas afirmou que são valores “como de nível de gerência executiva de grandes empresas”
Advogados assumiram o caso. Erberth Santos prometeu uma manifestação em vídeo para os próximos dias. “O evento estava redondo, bacana. Celebridades da luta e de fora, astral legal. E na última luta teve esse problema. O que agrava é o fato de ser um faixa-preta. É uma arte marcial, precisa de autocontrole, é o que a gente aprende até chegar a ser um faixa-preta. Acho que ele errou, o sangue subiu e ele jogou tudo para cima. Temos recebido muito apoio das grandes figuras do jiu-jitsu, que sabem que é muito difícil fazer o evento desse tipo. Não estou dizendo para abafar o caso, tem que falar, mas tem que noticiar tudo o que aconteceu de positivo, os grandes clássicos que aconteceram lá. É um apelo que eu faço para a gente dar dois passos para frente depois destes 10 para trás.”
Fonte: Napoleão de Almeida Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)
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